Analisar a ação política do CEAS - Centro de Estudos e Ação Social durante a ditadura militar (1964-1985)é a contribuição deste livro à história da Igreja Católica e do Brasil. Criado pelo jesuítas e sediado em Salvador, Bahia, o CEAS pode ser definido como uma "intituição de fronteira". No período, foi espaço de aglutinação da oposição ao regime, de diálogo entre cristãos e marxistas, elaboração de difusão de posicionamento sobre a realidade brasileira.
A natureza de fronteira é demosntrada por várias características. É uma organização não confessional que reúne padres e leigos, cristãos e não cristãos, em torno da luta por uma sociedade mais justa. Representa a linha mais avançada da Igrejaque se dirige ao mundo moderno e incorpora, à sua doutrina, contribuições, inclusive marxistas, das causas das desigualdades estruturais. A ação do CEAS, no período estudado, se localiza no ponto de choque entre o impulso pela defesa da justiça social e dos direitos humanos, acelerado pelo Concílio Vaticano II e a repressão da ditadura militar acelerada após o AI-5. O CEAS foi o exemplo maior, na Bahia e com repercussão nacional, do fornecimento de um espaço no qual a sociedade civil podia se organizar e de instituição que funcionou como voz dos que não podiam falar. Assim, a instituição de fronteira se transformou em forte trincheira.
O desempenho dessas funções não ocorreu sem conflitos e atritos com o regime militar e com o próprio Cardeal D. Avelar Brandão Vilela que acolhia o CEAS e lhe reconhecia o direito à maior flexibilidade doutrinais e política.
Griamldo Zachariadhes reconstituiu esta história a partir de cuidadosa pesquisa na qual teve acesso aos arquivos do CEAS, da Companhia de Jesus, de D. Avelar Brandão, Arcebispo de Salvador, e de entrevistas a religiosos e militantes da oposição ao regime militar. Bem fundamentado e claro, este livro contribuiu para que possamos, com lucidez, reconstruir nossa história. (Joviniano S. de Carvalho Neto. Profesor de Ciência Política da UFBA. Membro do CEAS)
